"O problema é que eu fora inadequada o tempo todo, só que nunca pensara nisso."
"Queria-os todos, e escolher um significava perder o resto; incapaz de me decidir, os figos começavam a murchar e a apodrecer, e um a um caíam no chão aos meus pés."
Agora é ivunerável como os deuses. Nada na terra pode ferí-lo, nem o desamor de uma mulher, nem a tísica, nem as ansiedades do verso, nem essa coisa branca, a lua, que já não tem de fixar em palavras. Caminha lentamente sob tílicas; olha as balaustradas e as portas, não para lembrá-las. Já sabe quantas noites e quantas manhã lhe faltam. Sua vontade lhe impôs uma disciplina precisa. Executará determinados atos, atravessará previstas esquinas, tocará em uma árvore ou em uma grade, para que o futuro seja tão irrevogável como o passado. Age dessa maneira para que o fato que deseja e que teme outra coisa não seja que o termo final de uma série. Caminha pela rua 49; pensa que nunca atravessará este ou aquele pátio lateral. Sem que suspeitassem, já se despedira de muitos amigos. Pensa no que nunca saberá, se o dia seguinte será um dia de chuva. Passa por um conhecido e lhe faz uma brincadeira. Sabe que esse episódio será, durante um certo tempo, mera lembrança. Agora é ivunerável como os mortos. Na hora fixada, subirá por alguns degraus de mármore (Isto perdurará na memória de outros.) Descerá ao lavatório; no piso axedrezado a água apagará rapidamente o sangue. O espelho o aguarda. Ajeitará o cabelo, ajustará o nó da gravata (sempre foi um pouco dândi, como condiz a um jovem poeta) e procurará imaginar que o outro, o do cristal, executa os atos que ele, seu duplo, repete-os. A mão não lhe tremerá quando ocorrer o último gesto. Docilmente, magicamente, já terá enconstado a arma contra a têmpora. Assim, creio, aconteceram as coisas.